Friday, December 30, 2022

Sarcófago da caça aos javalis e veados

O sarcófago da caça aos javalis e veados é o último dos três modelos fotogramétricos que realizei em França este mês de Dezembro. Trata-se de um relevo esculpido em mármore de Carrara (Itália), datado de meados do século IV d.C. O relevo pertencia a um sarcófago, conservando-se apenas o friso esculpido da caixa. O fragmento faz parte da exposição permanente do Musée Départemental Arles Antique e encontra-se exposto numa das paredes, estando enquadrado por uma espécie de rebordo que lhe serve de moldura.

A "moldura" saliente da parede impossibilita que se consiga fazer o registo fotográfico dos lados do sarcófago. A iluminação inadequada para a prática da fotogrametria também não ajudou a registar os topos laterais do relevo esculpido. De qualquer maneira, tendo em conta as condições nas quais a peça foi fotografada, o modelo 3D está bastante aceitável.

O fragmento de sarcófago ilustra uma cena de caça aos javalis e veados, cujo tema é recorrente na arte funerária, quer por se tratar de um dos passatempos favoritos do defunto ou, por um conjunto de motivos de ordem simbólica associados à luta na vida terrena com o fim de alcançar a salvação.

As cenas alusivas à caça desenvolvem-se sequencialmente da direita para a esquerda, separadas por árvores estilizadas sugerindo a floresta, local onde decorre a acção.

No início, uma figura a pé empunha uma espada ao mesmo tempo que incentiva ao ataque dos cães a um javali. Ao centro, os caçadores forçam os veados na direcção de uma rede enquanto uma lebre consegue escapar à armadilha. Estes caçadores usam túnicas curtas, calçam botas e têm as pernas protegidas. Os caçadores que seguram a rede estão descalços e desprotegidos, o que nos permite supor tratar-se de escravos. Outras figuras ostentam o manto chamado paenula, enquanto outros usam o cucullus, uma espécie de capa que cobria a cabeça.


Thursday, December 22, 2022

O homem togado do museu de Nîmes

No seguimento do modelo fotogramétrico do relevo do museu de Nîmes, a aproveitei a ocasião para registar uma escultura no mesmo museu, cuja posição da peça na exposição seria perfeita se não fosse o problema das luzes e a altura, tendo-me impedido de registar eficazmente a parte superior da cabeça.

Trata-se de uma escultura de um homem togado em mármore branco com veios de cinza, datada dos sécs. I-II d.C.

Uma das janelas do museu encontrava-se precisamente por detrás da escultura, tendo impossibilitado obter uma luz homogénea. Por outro lado, os focos de luz que iluminam a exposição criam a um jogo de luzes muito pouco adequado para a prática da fotogrametria. Trata-se no entanto de um modelo 3D razoavelmente bem conseguido, não fosse o defeito na parte superior da cabeça. Infelizmente não posso carregar um escadote para o interior do museu!


Tuesday, December 20, 2022

Um relevo romano em mármore

Em Dezembro deste ano realizei uma viagem de estudo há muito desejada por mim, à antiga província romana da Gália Narbonense. Entre os locais que queria muito visitar estavam as cidades de Nîmes, Arles e Orange, com toda a sua herança romana, entre outros locais que considero imperdíveis, tal como a Pont du Gard.

Aproveitei esta deslocação para realizar alguns levantamentos fotogramétricos. Não estava nada definido e a oportunidade surgiu da ocasião. O fantástico "Museu da Romanidade" de Nîmes (Musée de la Romanité) ostenta uma incrível colecção permanente de centenas de peças de grande valor artístico e histórico-cultural. Uma das peças que me saltou à vista e que me permitia fazer um levantamento fotogramétrico foi um lindo relevo de época romana esculpido em mármore, decorado com volutas de folhas de acanto e povoado com pássaros.

O modelo fotogramétrico foi obtido com 36 fotografias (sem flash conforme as regras do museu). As condições para fotografar não foram as melhores, uma vez que a iluminação não era adequada e a peça encontrava-se semi-embutida na parede, tornando impossível obter uma leitura perfeita da faces laterais e do topo. Ainda assim, o registo do relevo ficou aceitável.


Friday, December 16, 2022

Uma rua romana no Monte dos Castelinhos - Sondagem 8

A Sondagem 8 das escavações do Monte dos Castelinhos trouxe à luz do dia vestígios importantes para o conhecimento do urbanismo romano daquele sítio.

João Pimenta, arqueólogo responsável pela escavação faz uma abordagem à Sondagem 8 neste seu recente artigo.

Trata-se de uma secção de uma via de circulação ladeada por construções em ambos os lados. Foi ainda identificada uma possível segunda via, perpendicular à via principal, podendo indiciar uma certa regularidade urbanística.


Planta em 3D com reconstituição das estruturas correspondentes à Fase 3.


Com uma pendente considerável, as estruturas identificadas na Sondagem 8 caracterizam-se por uma adaptação ao terreno através do escalonamento dos vários ambientes dispostos em patamares, em certos casos interligados por degraus.


Vista axonométrica do conjunto arquitectónico da Sondagem 8, correspondente à Fase 3.


O sítio, ocupado desde o período republicano, foi alvo de uma reforma urbanística no período augustano, nos inícios do século I da nossa era, tendo dado toda uma nova configuração a este local. A estrutura mais significativa em termos arquitectónicos foi a construção de um pórtico, elemento que contribuiu para uma nova configuração arquitectónica, deixando perceber que podermos estar perante uma mudança de paradigma no urbanismo e arquitectura do Monte dos Castelinhos.


Reconstituição parcial do conjunto arquitectónico da Sondagem 8, correspondente à Fase 3.


A complexidade do processo reconstrutivo deve-se sobretudo à falta de leitura integral do conjunto escavado com a continuidade das estruturas ainda por descobrir. Por isso mesmo, limitamo-nos a reconstruir os muros até meia altura de forma a deixar perceber a forma e a natureza das estruturas arqueológicas identificadas, enquanto que do lado oposto se optou por reconstituir o alçado que terá existido. É uma proposta possível.


Reconstituição parcial do conjunto arquitectónico da Sondagem 8, correspondente à Fase 3.


De difícil articulação é o pórtico identificado, cuja pendente da rua permite-nos perceber um engenhoso sistema dos telhados. Pareceu-nos lógica e funcional a solução de telhados escalonados que acompanham o declive to terreno.


Vista axonométrica do conjunto arquitectónico da Sondagem 8, correspondente à Fase 3.


Como conclusão, podemos dizer que este troço de rua permite supor, ainda que de forma preliminar, haver preocupação por uma regularidade urbanística, quer através da monumentalização ocorrida no século I da nossa era, quem pela presença de uma rua secundária perpendicular. Por outro lado, é evidente a preocupação que os construtores tiveram na adaptação da construção à inclinação do terreno, arranjando forma de os ambientes se conectarem por meio de degraus.