O sarcófago da caça aos javalis e veados é o último dos três modelos fotogramétricos que realizei em França este mês de Dezembro. Trata-se de um relevo esculpido em mármore de Carrara (Itália), datado de meados do século IV d.C. O relevo pertencia a um sarcófago, conservando-se apenas o friso esculpido da caixa. O fragmento faz parte da exposição permanente do Musée Départemental Arles Antique e encontra-se exposto numa das paredes, estando enquadrado por uma espécie de rebordo que lhe serve de moldura.
A "moldura" saliente da parede impossibilita que se consiga fazer o registo fotográfico dos lados do sarcófago. A iluminação inadequada para a prática da fotogrametria também não ajudou a registar os topos laterais do relevo esculpido. De qualquer maneira, tendo em conta as condições nas quais a peça foi fotografada, o modelo 3D está bastante aceitável.
O fragmento de sarcófago ilustra uma cena de caça aos javalis e veados, cujo tema é recorrente na arte funerária, quer por se tratar de um dos passatempos favoritos do defunto ou, por um conjunto de motivos de ordem simbólica associados à luta na vida terrena com o fim de alcançar a salvação.
As cenas alusivas à caça desenvolvem-se sequencialmente da direita para a esquerda, separadas por árvores estilizadas sugerindo a floresta, local onde decorre a acção.
No início, uma figura a pé empunha uma espada ao mesmo tempo que incentiva ao ataque dos cães a um javali. Ao centro, os caçadores forçam os veados na direcção de uma rede enquanto uma lebre consegue escapar à armadilha. Estes caçadores usam túnicas curtas, calçam botas e têm as pernas protegidas. Os caçadores que seguram a rede estão descalços e desprotegidos, o que nos permite supor tratar-se de escravos. Outras figuras ostentam o manto chamado paenula, enquanto outros usam o cucullus, uma espécie de capa que cobria a cabeça.