Showing posts with label Arquitectura. Show all posts
Showing posts with label Arquitectura. Show all posts

Thursday, November 17, 2022

Esquema construtivo da casa da Sondagem 4 do Monte dos Castelinhos

Quando pensamos em arquitectura romana nem sempre temos a consciência de que muitas vezes se estrutura com base numa métrica e modulação bem definidas. Pelo menos isto não nos é patente numa primeira observação, especialmente quando os vestígios se encontram mal conservados e não se erguem em altura.

É o caso da casa identificada na Sondagem 4 no Monte dos Castelinhos. Construção que segundo João Pimenta identifica como uma construção de tipologia das "casas dos tribunos". Podem saber mais sobre este assunto consultando a tese de Doutoramento de João Pimenta aqui.


Proposta de reconstituição 3D da casa identificada na Sondagem 4.














Voltando à casa da sondagem 4, a ruína encontra-se praticamente à altura dos alicerces e a percepção que conseguimos ter das estruturas é em certa medida um pouco vaga. No entanto, com um olhar atento e um levantamento das estruturas torna-se clara a regularidade da construção. Trata-se de uma construção de planta quadrada, com as divisões bem compartimentadas, permitindo-nos perceber que se estruturava em torno de pátio central.


Planta em 3D com reconstituição da Sondagem 4.




















Os ligeiros desvios no quadrado que forma a planta devem-se sobretudo à irregularidade do terreno. Composto por uma pendente acentuada, fez com que a construção se alongasse no sentido Oeste, tento resultado num losango disfarçado. A forma quadrangular da planta é a que mais sobressai numa primeira observação.

Tornando à questão inicial sobre a modulação da construção, constatamos que a casa da Sondagem 4 apresentava um esquema regular que podia ocultar uma métrica bem definida. Em primeiro lugar, a identificação do pé osco-itálico de 275mm por João Pimenta foi fundamental para se conseguir ensaiar uma grelha construtiva que se baseasse nesta unidade de medida praticada ainda numa fase tardia da república romana.


Análise do módulo construtivo da casa da Sondagem 4.




















Quando foi sobreposta à planta uma grelha regular de 5 pés (1 passus), constatamos que a construção se inseria num módulo de 13 passus, o equivalente a 65 pés. Foi ainda evidente que quase todos os muros da construção se orientavam pela grelha que lhe havia sido sobreposta. Neste sentido, pareceu-nos evidente tratar-se de uma construção que assentou num projecto conceptualmente bem definido, cujos muros se estruturam em espaços definidos por proporções concretas e não aleatórias.


Análise do projecto. A verde, alinhamentos coincidentes com a grelha/módulo construtivo, a roxo, hipótese de alinhamentos conforme o projecto original.




















A ideia que nos ressalta é que esta construção, assim como outras de época romana, foi desenhada a partir de uma grelha/módulo que permitia ao arquitecto ou mestre de obras definir a planta, orientando os muros a partir da grelha construtiva que lhe serviu de base. É curioso ainda darmo-nos conta que alguns muros se alinham correctamente pela grelha construtiva, mas outros, orientam-se pela grelha por uma das faces, interna ou externa. Este é um aspecto que observamos em muitas construções romanas de carácter civil.

Outro aspecto curioso tem que ver com as proporções alcançadas por esta grelha/módulo. Se até aqui constatamos que há uma clara evidência dos alinhamentos se estruturarem a partir da grelha construtiva, também não deixa de ser interessante verificar que os compartimentos da construção respeitam na sua grande parte determinadas proporções muito comuns na antiguidade.


Análise das proporções patentes nos diferentes Ambientes da casa da Sondagem 4.




















Verificamos então que o rectângulo 5:7, obtido a partir da raiz de 2 e o rectângulo 5:8 (muito aproximado à proporção áurea) foram os mais usados. Constatamos ainda a existência do rectângulo 5:6 que em vários Ambientes da casa se desdobra por si mesmo ou noutra proporção. A utilização do quadrado (1:1) também está patente e foi a proporção usada para o pátio central.


Análise da utilização da proporção áurea na casa da Sondagem 4.






















A proporção áurea está identificada no que respeita ao rácio entre comprimento e largura em dois Ambientes da casa, porém, podemos observar como esta proporção está bem patente em praticamente todas as divisões e sub-divisões dos espaços. Não é só a grelha/módulo que ajudou no posicionamento dos alinhamentos mas também a inter-relação que os alinhamentos mantêm entre si, combinando um conjunto de interacções baseadas na secção áurea.

Thursday, November 3, 2022

A Casa dos Tribunos do Monte dos Castelinhos

A sondagem 4 do Monte dos Castelinhos, em Vila Franca de Xira, corresponde a uma possível "casa dos Tribunos". Trata-se de um trabalho de reconstituição arqueológica realizado sob a direcção de João Pimenta para a dissertação da sua tese de Doutoramento, intitulada "Monte dos Castelinhos e as dinâmicas de conquista romana, da península de Lisboa e baixo Tejo", defendida em Junho deste ano.

Tese de João Pimenta disponível aqui.








































Esta construção do período republicano romano (séc. I a.C.) insere-se no contexto militar da conquista romana da bacia do Tejo. É uma construção que segue os modelos das chamadas "Casas dos tribunos" identificadas em Numantia e vale do Ebro. Consiste numa construção de configuração quadrada, adaptada à inclinação do terreno, com um pátio central, a partir do qual irradiam as divisões da casa.





























Numa fase inicial do trabalho, foram realizados vários estudos em desenho sobre a casa. A partir da planta foram calculados os volumes tendo em conta os seguintes factores; adaptação da casa à geografia do terreno, projecção da altura dos muros e circulação interna.





























Foram realizados vários desenhos de estudo com vista à simulação das coberturas e de como a casa se desenvolveria do ponto de vista volumétrico.





























Depois de compreendido o espaço, passou-se fase de modelação 3D para o auxílio da projecção das coberturas. Através de um modelo com corte projectaram-se os telhados de maneira a permitir ler todo o conjunto arquitectónico.


























A "Casa dos Tribunos" do Monte dos Castelinhos desenvolvia-se em torno de pátio central. A pendente do terreno, bastante acentuada, não impediu os romanos de manterem a regularidade da construção.



Ao contrário da caserna adjacente, com os seus pequenos compartimentos para os legionários, a casa permitia um outro conforto e espaço ao oficiais de patente mais elevada.





























Para este trabalho foi usado o potente programa de modelação 3D Foundry Modo e o editor de imagem Affinity Photo. Estes programas, entre outros que fazem parte do meu fluxo de trabalho, têm-me permitido produzir um leque de opções e soluções no que diz respeito à virtualização do património e não só!






Thursday, December 6, 2018

Trabalho final da interpretação de Santa Maria de Melque

No seguimento do trabalho realizado para o "Concurso de Ilustración y Recreación Histórica, 50 Aniversario del Sitio Histórico de Melque sobre el Reino Visigodo", foram produzidas posteriormente uma nova séria de imagens e algumas melhorias numa das imagens enviada a concurso.

Devido à escassez de tempo e disponibilidade, não foi possível terminar atempadamente, até à data limite do concurso, todo o projecto de reconstituição/recriação que privilegia o interior do edifício em detrimento do seu exterior. Deste modo, apresenta-se agora todas as imagens criadas e que fazem parte deste trabalho de reconstituição/recriação da igreja de Santa Maria de Melque na sua primeira fase de construtiva (1A).































A escolha em abordar com mais detalhe o interior deveu-se à impossibilidade em me deslocar ao local para fazer um registo pormenorizado do sítio, por exemplo, através da criação de um modelo fotogramétrico do edifício e sua envolvente geográfica. Devido a este facto reservei a minha tarefa com destaque para o interior, já que este tipo de edifícios e a sua decoração são enormemente desconhecidos para o grande público. Julguei assim que podia dar um contributo neste aspecto, tendo em conta que uma grande parte das reconstruções virtuais privilegia as visões exteriores.

A decoração pictórica interior baseia-se nos restos de estuque preservados de elementos vegetalistas. As paredes e abóbadas deviam seguir uma estética de tradição classicista como era comum na época e se pode observar ainda em elementos decorativos de outros edifícios coevos ou posteriores, como é o caso das igrejas pré-românicas das Astúrias.































Deste modo, foram então produzidas após a data do concurso novas imagens que permitem compreender o contexto da igreja de Santa Maria de Melque, a sua localização geográfica e integração na planta do antigo mosteiro. As vistas exteriores estão restringidas ao edifício da igreja, já que não foi possível realizar uma reconstituição integral do mosteiro visigodo que envolvia a igreja.

































Uma das imagens do interior que foi a concurso sofreu algumas melhorias posteriormente, no tratamento das cortinas que dividem a igreja junto do cancel, mas principalmente na figura que está em momento de oração. Foi melhorado significativamente o cabelo e foi acrescentada uma barba à personagem.




Wednesday, December 5, 2018

Concurso de Ilustración y Recreación Histórica, 50 Aniversario del Sitio Histórico de Melque sobre el Reino Visigodo

PT
Recentemente tive o prazer de participar no "Concurso de Ilustración y Recreación Histórica, 50 Aniversario del Sitio Histórico de Melque sobre el Reino Visigodo", em Espanha, no qual fui distinguido com uma Menção Honrosa com um dos dois trabalhos que apresentei a concurso.

Os trabalhos enviados a concurso inserem-se na categoria de ilustração tratada com novas tecnologias. O trabalho distinguido, com o título "Arquitectura y decoración de Sta. María de Melque" apresenta um conjunto de vistas da arquitectura do edifício na fase 1A, bem como uma proposta de reconstituição pictórica do interior. Este tipo de imagem possui uma grande capacidade comunicativa, do ponto de vista da compreensão integral do edifício e do seu aspecto decorativo.

ES
Recientemente tuve el placer de participar en el "Concurso de Ilustración y Recreación Histórica, 50 Aniversario del Sitio Histórico de Melque sobre el Reino Visigodo", en España, en el que fui distinguido con una Mención Especial con uno de los dos trabajos que presenté el concurso.

Los trabajos enviados a concurso se inscriben en la categoría de ilustración tratada con nuevas tecnologías. El trabajo distinguido, con el título "Arquitectura y decoración de Sta. María de Melque" presenta un conjunto de vistas de la arquitectura del edificio en la fase 1A, así como una propuesta de reconstitución pictórica del interior. Este tipo de imagen posee una gran capacidad comunicativa, desde el punto de vista de la comprensión integral del edificio y de su aspecto decorativo.

EN
I recently had the pleasure of participating in the "Historical Illustration and Recreation Contest, 50th Anniversary of the Historic Site of Melque on the Visigothic Kingdom", in Spain, in which I was honored with an Honorable Mention with one of the two works that I presented to the contest.

The works sent to the contest are inserted within the category of illustration treated with new technologies. The distinguished work, entitled "Architecture and decoration of Sta. María de Melque" presents a set of views of the architecture of the building in the phase 1A, as well as a proposal for pictorial reconstitution of the interior. This type of image has a great communicative capacity, from the point of view of the integral understanding of the building and its decorative aspect.


Link: https://www.asociacionadarq.org/concurso-ilustracion-melque/?fbclid=IwAR0W_QJsOS565K6aT6I0ra4Yg-eOca2EYnwxDfQqxPsZZFdyOAtpo2fPF-U


"Arquitectura y decoración de Sta. María de Melque", trabalho distinguido com a Menção Honrosa.

"Reconstrucción ideal del interior de Santa María de Melque".

Monday, December 3, 2018

Noticia sobre o Concurso de Ilustración y Recreación Histórica, 50 Aniversario del Sitio Histórico de Melque

Na passada sexta-feira foram entregues em Toledo, Espanha, os prémios do "Concurso de Ilustración y Recreación Histórica, 50 Aniversario del Sitio Histórico de Melque sobre el Reino Visigodo", no qual fui distinguido com uma Menção Honrosa.

Foram apresentados dois trabalhos na categoria de ilustração tratada com novas tecnologias. O trabalho distinguido com a Menção Honrosa apresenta um conjunto de vistas da arquitectura do edifício na sua primeira fase, bem como uma proposta de reconstituição pictórica do interior. O segundo trabalho apresenta uma vista do interior com um ensaio de reconstituição da decoração pictórica, enquanto uma personagem se apresenta em momento de oração. Nesta imagem pretendeu-se apresentar o edifício no seu quotidiano e no seu máximo esplendor.

Entretanto o concurso teve um forte impacto mediático em Espanha, testemunho da importância e valorização do sítio histórico de Melque, que está a comemorar o seu 50.º aniversário. Por outro lado, este fabuloso sítio histórico passou a ter uma nova visibilidade devido à quantidade e qualidade de trabalhos apresentados, que espelham por si só a importância do edifício visigodo melhor preservado da Península Ibérica.

A vice-presidente da Diputación Provincial de Toledo, María Ángeles Garcia, juntamente com alguns dos vencedores e suas obras.




Tuesday, August 14, 2018

Making Of - Oppidum de El Puig D'Alcoi

Finalizada em Julho passado a pós-graduação de Especialização em Virtualização do Património, a qual concluí com sucesso, através da Universidade de Alicante, este 'Making-Of' do Oppidum de El Puig D'Alcoi fez parte do projecto final do curso. Trata-se portanto de um trabalho de âmbito académico.

Como qualquer trabalho de reconstituição arqueológica, este projecto obedeceu a rigorosos critérios de produção, os quais se basearam em dados arqueológicos e investigação criteriosa. Os 13 minutos de vídeo são uma compilação em 'timelapse' das muitas horas de trabalho e dedicação intensos. Foi um trabalho que consistiu na junção de várias técnicas com vista à produção de imagens que ilustrem com clareza o local arqueológico. Deu-se início ao desenho das plantas em AutoCAD e posteriormente à modelação e renderização com MODO. Depois de geradas as imagens, estas foram usadas num processo de manipulação e tratamento digital em Photoshop, designado de 'matte painting', que visa a junção de fotografia, pintura e render 3D para obtenção das imagens finais.

O Oppidum de El Puig D'Alcoi foi um povoado ibérico fortificado que se situa na paisagem conhecida como La Canal d'Alcoi, situada no extremo mais meridional das comarcas de L'Alcoià y El Comtat, no Levante Espanhol.

As unidade habitacionais reconstruídas datam dos séculos V e IV a.C. Trata-se de vários núcleos habitacionais compartimentados e unidos com paredes-meias, os quais possuíam diversas funções no âmbito familiar e laboral.







Making Of - Oppidum de El Puig D'Alcoi from César Figueiredo on Vimeo.

Wednesday, June 13, 2018

Processo de pintura de uma ilustração científica

O processo de pintura de ilustrações científicas, sejam elas desenhos, representações do quotidiano do passado ou de representações de cidades antigas, são sempre um desafio para os profissionais da área.

Desta vez trago-vos o exemplo de uma ilustração de grande formato (66 x 95 cm), que representa a antiga cidade de Braga em 1768. Esta foi talvez a ilustração mais trabalhosa que realizei até ao presente, quer pela dimensão, pelo detalhe e tempo necessário para a sua execução. O desenho preparatório a lápis foi realizado com todo o rigor a partir das fontes iconográficas coevas, a partir do auxílio do Mapa das Ruas de Braga de 1750 e do mapa de Braga Primaz de André Soares datado de 1756, bem como de inúmeras fotografias do século XIX e inícios do XX, com edifícios entretanto desaparecidos. Foi um trabalho moroso que exigiu atenção aos detalhes dos edifícios que entretanto foram destruídos e desmantelados, para garantir que esta imagem representasse de facto uma cidade verdadeira e não ficcionada.



A segunda fase do desenho consistiu em fazer a tintagem, ou seja, redesenhar tudo com canetas de tinta da china com diferentes espessuras de acordo com os efeitos gráficos da linha, de forma a enfatizar subtilmente os volumes e profundidade.







A terceira e última etapa consistiu em pintar toda a superfície com aguarela. Foi dada especial atenção às tonalidades para que a cor não ficasse homogénea, impedindo deste modo que o desenho ficasse "plano". Quase todos os telhados têm tonalidades diferentes, e a pintura do terreno segue o mesmo critério, ficando as cores mais intensas em primeiro lugar e ao fundo as cores mais subtis. Deste modo, o desenho ganha profundidade e realismo, dando a sensação de que é tridimensional.
O trabalho de pintura é muito exigente e obriga a um controlo constante para que se respeite as formas e os espaços a pintar. Depois do desenho estar todo pintado, fizeram-se as sombras a partir de um registo prévio a lápis sobre a aguarela, ou então de forma livre e espontânea, sempre de acordo com a direcção da luz do sol. O trabalho total compreendeu pelo menos 700 horas, e exigiu uma dedicação e esforço físico consideráveis.








Esta ilustração faz parte de um conjunto de imagens que foram desenvolvidas para o Centro Interpretativo da História de Braga, o qual permite revistar a cidade ao longo de mais de dois mil anos de existência.

Thursday, May 24, 2018

Matte Painting

É sabido que actualmente existem muitas formas de reconstituir o passado histórico através de técnicas de desenho, ilustração e infografia 3D. Uma das técnicas mais interessantes e que tem raizes num domínio completamente diferente é a técnica de matte painting. Esta técnica terá tido as suas origens nos cenários de teatro e fotografia, mas foi no cinema que atingiu a sua mais expressividade e se autonomizou como uma técnica verdadeiramente especializada, como forma de criar cenários de paisagens e ambientes onde depois, através de processos de sobreposição, nos levava a crer que os actores estavam de facto naquele cenário real.

A matte painting foi no passado uma técnica de pintura tradicional, e hoje em dia incorpora outros processos tais como fotografia, fotomontagem, pintura digital, etc.

A sua aplicação continua a ser aplicada ao cinema, mas também noutros meios tais como a publicidade e a reconstituição arqueológica e de património. É neste domínio que tenho vindo a desenvolver de há cerca de dois anos a esta parte uma série de trabalhos com base em matte painting.




Neste trabalho de reconstituição da fachada de 1750 da Igreja da Santa Casa da Misericórdia de Braga, foi usada a técnica de fotomontagem, pintura e retoque digital de maneira a reproduzir o mais fielmente possível o aspecto da fachada original do edifício. A documentação antiga e a iconografia coeva foi imprescindível, nomeadamente o Mapa da Ruas de Braga de 1750, que possui a representação iconografia exacta da igreja.




O mesmo sucedeu com a representação da Casa da Câmara de Braga em 1756. Embora o projecto original de André Soares tivesse o aspecto actual, o edifício foi construído em duas fases distintas.  A primeira fase corresponde à imagem de reconstituição, e que terá durado até 1865, altura em que foi concluída a ala direita da edifício. A iconografia do século XIX foi imprescindível para reconstituir o aspecto original.




O Palácio de D. José de Bragança, em Braga, foi outro exigente trabalho de reconstituição, devido aos elementos arquitectónicos que já não existem. Neste caso concreto existem inúmeras fotografias e gravuras com o aspecto original, que contemplava um campanário e um lanternim que foram demolidos no restauro/reconstrução após o incêndio de 1866. A imagem criada através de matte painting foi quase toda ela gerada através de fotomontagem, com especial destaque para os elementos desaparecidos, os quais foram reconstruídos com recurso a elementos arquitectónico similares após uma profunda manipulação de fotomontagem.

Em casos como este poderia ter recorrido a reconstrução 3D, mas o recurso fotográfico garantiu uma maior homogeneidade e facilidade na manipulação. Todos estes trabalhos foram criados com Affinity Photo, software profissional de edição de imagem e pintura digital. Numa segunda fase as imagens foram tratadas com filtros e pintura digital para simular técnicas tradicionais de desenho.

Thursday, December 14, 2017

Era uma vez uma cidade - Núcleo Interpretativo da História de Braga

Inaugurado no passado dia 11 de Dezembro e aberto ao público desde o dia 12, o "Era uma vez uma cidade - Núcleo Interpretativo da História de Braga" situa-se na Torre de Menagem do antigo castelo de Braga. A exposição está organizada ao logo de quatro pisos, onde é feita uma trajectória histórica original e inovadora da bimilenar Cidade dos Arcebispos.



Logo no 1º piso dá-se início às origens da cidade com uma breve referência à proto-história e romanização para se dar a entender do enquadramento da época. Ainda neste piso faz-se referência à cidade alto-imperial e seus principais edifícios, continuando até à antiguidade tardia, já com Bracara Augusta como capital da província romana da Callaecia. As diferentes fases de desenvolvimento da cidade são mostradas através de ilustrações em grande formato, permitindo ao visitante ter uma visão aérea sobre a cidade de há quase dois mil anos.



Subindo ao 2º piso, a história continua agora na Alta Idade Média, com o Bispo São Martinho de Dume a fazer as boas vindas. São frutuoso também marca este piso com referências à sua obra. Chegados ao século XI, a Sé Catedral assume grande destaque com imagens detalhadas sobre o projecto inicial de D. Pedro. Há ainda um enquadramento das figuras de Braga que estiveram por detrás da fundação de Portugal e que assumiram uma papel determinante da criação do reino.
Este piso termina com referências à transformação da urbe durante os séculos XII e XIII, e como não podia deixar de ser, sobre o castelo medieval.



No 3º piso dá-se destaque ao mecenato de D. Diogo de Sousa, com uma grande imagem e uma maqueta de grandes dimensões que mostram ao visitante a cidade de Quinhentos. Neste piso faz-se uma viagem por todo o século XVI, com destaque para a obra do Arcebispo D. Diogo de Sousa, mas também a Francisco Sanches, que foi uma das personalidades marcantes do renascimento e início do século XVII.



No 4º e último piso, a viagem faz-se pela Braga "moderna". Inicia pelo barroco do século XVII e pela obra extraordinária de André Soares. O final do século XVIII é marcado pela obra de Carlos Amarante, onde são reproduzidas algumas das suas obras mais importantes. O Bom Jesus do Monte é com certeza uma delas. Para finalizar, há um painel dedicado ao século XIX que nos faz a transposição para o século XX, onde são mostrados vários objectos da cultura material de Braga da era contemporânea.



Esta exposição é o culminar de 3 anos de trabalho árduo, a qual concilia ciência e arte num projecto verdadeiramente pioneiro em Portugal, que concilia mais de 80 ilustrações, entre as quais se destacam 8 vistas aéreas da cidade ao longo das principais etapas de desenvolvimento urbano da cidade, mas também imagens de realidade virtual realizadas em 3D, plantas, cortes e alçados de alguns edifícios emblemáticos da história Braga.



Além do carácter eminentemente visual desta exposição, o visitante poderá contar com vários elementos da cultura material que o farão aproximar mais do passado. A colaboração dos museus D. Diogo de Sousa e Pio XII foram determinantes, tento cedido um total de treze peças de espólio histórico-arqueológico, mais cinco objectos cedidos por outras entidades da cidade para a época contemporânea. A complementar este espólio histórico o visitante poderá ver ainda uma reprodução à escala real do túmulo de São Martinho de Dume, obra maior da arte numulária medieval portuguesa, o qual se encontra exposto num arco sólio como se apresentaria no seu estado original, levando o visitante a entrar no ambiente da época. Uma maqueta de grandes dimensões da cidade em 1594 completa o conjunto de objectos expostos, permitindo aos visitantes ter uma compreensão nunca antes dada sobre a história da cidade de Braga.